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    RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL NO SUS: FORMAÇÃO E A PRODUÇÃO EM SAÚDE
    (Grupo Hospitalar Conceição, 2020-05-15) Branchi, Aline Zeller; Rodrigues, Elisandro; Castilhos, Thaiani Farias de
    Quando vim para a equipe da Residência Multiprofissional do GHC a frase que mais ouvi foi “cuidado, não é fácil aguentar esse rojão”. E por quê? Porque fazer formação no e para o SUS não é tarefa simples, daquelas que se faz à toa, de olhos fechados e mente distraída. Construir possibilidades de formação desde o cotidiano dos serviços de saúde no Brasil requer, além de muita perseverança, uma boa dose de paciência e, por que não, teimosia. Forjar-se trabalhador do SUS é uma das escolhas mais difíceis, porque escolhe-se não ser apenas um funcionário de uma instituição, mas protagonista na construção diária de um sistema de saúde que se propõe a grandiosidades. Ser universal, integral, equânime e democrático, num país do tamanho do Brasil, requer uma imensa capacidade de construir redes e de estar continuamente em formação. É neste contexto que as residências em saúde surgem: com a promessa de formar trabalhadores imbuídos deste espírito, altamente identificados com os princípios norteadores deste sistema de saúde que é único em sua experiência. Daí emerge o desafio: a grandiosidade evidencia as contradições, os limites e as impossibilidades. “Eu queria querer-te amar o amor Construir-nos dulcíssima prisão Encontrar a mais justa adequação Tudo métrica e rima e nunca dor Mas a vida é real e de viés E vê só que cilada o amor me armou Eu te quero (e não queres) como sou Não te quero (e não queres) como és” Formar trabalhadores no e para o SUS é deparar-se constantemente com o contraditório, com os limites impostos pela dificuldade de construir um sistema de saúde que muitas vezes coloca em xeque nossos modos de nos relacionarmos em sociedade: a vida é real e de viés... A residência desestabiliza, desacomoda e, por vezes, até incomoda. O residente vem para os programas de residência multiprofissional buscando qualificar-se e – eventualmente – mudar o mundo. Encontra trabalhadores mais e menos identificados com esta missão, serviços de saúde mais e menos alinhados com as políticas públicas construídas e idealizadas, mais e menos dispostos a aprender e ensinar: vê só que cilada o amor me armou... É nesse encontro múltiplo e improvável que acontece a formação em serviço. Residentes que, na maioria, chegam direto das Universidades, cheios de conhecimentos na cabeça, encontram comunidades e serviços de saúde calejados pelos desafios de fazer saúde. Aprender colocando a mão na massa, apender fazendo e sendo. A presença do residente, por si só, provoca, traz o estranhamento e possibilita abertura para a revisão de práticas e, quiçá, teorias. As equipes se desacomodam, se sentem questionadas e questionam. Perguntas que possibilitam mudanças e aberturas aos movimentos. E tudo isso só se torna possível a partir dos afetos que aí se constroem. Formação em serviço, assim, é formar-se e deformar-se desde os afetos e as afetações que o cotidiano possibilita. É tomar a saúde como resultado de uma relação: consigo mesmo, com o outro, com o contexto. “O quereres e o estares sempre a fim Do que em mim é de mim tão desigual Faz-me querer-te bem, querer-te mal Bem a ti, mal ao quereres assim Infinitivamente pessoal E eu querendo querer-te sem ter fim E, querendo-te, aprender o total Do querer que há e do que não há em mim” A verdade e a ciência não estão dadas, o saber não está pronto. E se é na relação com o outro, na troca, que construímos saberes, saúde e forjamos profissionais para o SUS, é através da pesquisa que damos formas às experiências e compartilhamos com o mundo. A relação da pesquisa com a formação em serviço passa pela possibilidade de construir novas teorias, novos saberes, novos conceitos advindos do que há de mais precioso para a saúde: as relações de troca, infinitivamente pessoal. O olhar curioso, contestador, que não se conforma... A pesquisa na formação em serviço permite estranhar o que se vê. A curiosidade somada ao desejo de mudar, de qualificar, permite que os residentes se lancem na tarefa de desvendar mistérios, de revisar teorias e, principalmente, de criar. Querendo sem ter fim, aprender o total do querer que há e do que não há: possibilidades de, desde o cotidiano mais desafiador, produzir pesquisa, ciência, a partir das afetações produzidas em si, na relação com o outro e com o sistema de saúde. O Grupo Hospitalar Conceição é a maior rede pública de hospitais do sul do Brasil, com atendimento 100% SUS. É neste contexto, e com muito orgulho dele, que produzimos pesquisa a partir da formação em serviço, evidenciando, a cada dia ao longo desses mais de 16 anos de história, que a Residência Multiprofissional em Saúde é potente e tem muito a contribuir na busca de um sistema de saúde cada vez mais universal, integral e equânime. Este livro - Bruta flor do querer – compartilha 17 textos oriundos de Trabalhos de Conclusão da Residência Multiprofissional em Saúde do Grupo na cabeça, encontram comunidades e serviços de saúde calejados pelos desafios de fazer saúde. Aprender colocando a mão na massa, apender fazendo e sendo. A presença do residente, por si só, provoca, traz o estranhamento e possibilita abertura para a revisão de práticas e, quiçá, teorias. As equipes se desacomodam, se sentem questionadas e questionam. Perguntas que possibilitam mudanças e aberturas aos movimentos. E tudo isso só se torna possível a partir dos afetos que aí se constroem. Formação em serviço, assim, é formar-se e deformar-se desde os afetos e as afetações que o cotidiano possibilita. É tomar a saúde como resultado de uma relação: consigo mesmo, com o outro, com o contexto.
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